De Loira do Banheiro ao Chupa-Cabra: Os Mitos que Assombraram o Brasil na Década de 90

Cris M.

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De Loira do Banheiro ao Chupa-Cabra: Os Mitos que Assombraram o Brasil na Década de 90

As lendas urbanas sempre exerceram um fascínio inexplicável sobre nós. Histórias que se espalham rapidamente, ganhando novos contornos e assombrando nossos pesadelos.

Na década de 90, em especial, o Brasil foi palco de diversas narrativas que se infiltraram no imaginário popular, tornando-se verdadeiros ícones do medo. Quer saber quais são as mais famosas? Então confira abaixo:

As Lendas Urbanas Mais Famosas do Brasil na Década de 90

Loira do Banheiro

Presente em praticamente todas as escolas do país, a Loira do Banheiro é uma das lendas mais clássicas e aterrorizantes. A lenda origina-se da misteriosa morte de Maria Augusta de Oliveira, que faleceu aos 26 anos em Paris, no século XIX.

Filha do Visconde de Guaratinguetá, Maria Augusta foi forçada a casar jovem, mas fugiu para a Europa, onde viveu até sua morte, cujas causas são desconhecidas. Após sua morte, seu corpo foi trazido de volta ao Brasil, e o caixão foi violado durante a viagem, perdendo-se o atestado de óbito. Reza a lenda que Maria nunca descansou em paz e seu espírito assombra a Escola Estadual Conselheiro Rodrigues Alves em Guaratinguetá, construída onde era sua antiga mansão.

A lenda também sugere que ao realizar um ritual batendo a porta do banheiro, chutando o vaso sanitário, dando descarga e dizendo um “palavrão”, ela apareceria, independente de onde estiver. Seu espírito poderia aparecer nos espelhos, fazer barulhos estranhos ou que poderia abrir torneiras, associando a sede à suposta hidrofobia que teria causado sua morte.

Chupa-Cabra

Surgido em meados da década de 90, o Chupa-Cabra aterrorizou fazendeiros e criadores de gado em todo o Brasil. A criatura, descrita como um ser bípede com espinhos nas costas e olhos vermelhos, atacava animais, especialmente cabras, drenando todo o seu sangue.

Os relatos variavam amplamente, com algumas pessoas descrevendo a criatura como tendo asas semelhantes às de um morcego, e outras, como um ser semelhante a um canguru ou a um cachorro sem pelos. A histeria foi tanta que muitos culpavam até mesmo OVNIs, experimentos genéticos secretos conduzidos por militares, ou até mesmo seitas satânicas.

A explicação mais plausível para os ataques seria a ação de predadores como cachorros-do-mato ou felinos selvagens, que, em alguns casos, poderiam estar sofrendo de sarna ou outras doenças que causam a perda de pelos, dando-lhes uma aparência bizarra.

Acredita-se que a lenda tenha se originado no México, no início da década de 90, e se espalhou rapidamente pela América Latina, chegando ao Brasil em 1995, impulsionada pela cobertura da mídia e pelo medo do desconhecido.

Doces Contaminados

Próximo ao Halloween, a lenda dos doces contaminados se espalhava rapidamente, gerando pânico entre pais e crianças. A história, no Brasil, envolvia relatos de balas, pirulitos e outros doces que eram supostamente injetados com cocaína por meio de seringas, com o objetivo de viciar as crianças e torná-las dependentes.

A ideia era que traficantes estariam mirando nas crianças, para torná-las dependentes e, assim, aumentar seu mercado consumidor. Em algumas versões da lenda, os doces eram distribuídos em frente às escolas, em parques, ou até mesmo por pessoas fantasiadas durante festas de Halloween.

A lenda dos doces contaminados é uma variação de histórias semelhantes que circulam em outros países, como os Estados Unidos, onde a lenda envolve agulhas, lâminas, alfinetes e outras substâncias perigosas escondidas em doces de Halloween.

Mulher de Branco

Presente em diversas culturas, a Mulher de Branco é uma figura fantasmagórica que assombra estradas, cemitérios, e outros locais ermos. No Brasil, a lenda se popularizou com relatos de motoristas que avistavam uma mulher vestida de branco pedindo carona, geralmente à noite, apenas para desaparecer misteriosamente sem deixar rastros.

Reza a lenda que ela é o espírito de uma mulher que morreu de forma trágica, geralmente em um acidente de carro, vítima de violência doméstica, ou abandonada no altar. Algumas versões da lenda contam que a Mulher de Branco aparece em encruzilhadas, outras, em curvas perigosas, e ainda há quem diga que ela pede carona apenas para motoristas homens.

A lenda da Mulher de Branco tem raízes em contos folclóricos de diversos países, como a “La Llorona” no México (a mulher que chora pelos filhos que afogou) e a “White Lady” na Inglaterra (o fantasma de uma mulher que morreu de desgosto).

Ladrões de Rins

A lenda dos ladrões de órgãos apavorou o Brasil na década de 90, gerando paranoia e desconfiança. A história contava sobre pessoas que eram sequestradas, drogadas, e operadas em hospitais clandestinos para terem seus rins e outros órgãos removidos e vendidos no mercado negro. A narrativa era tão convincente que muitos evitavam viajar sozinhos, aceitar bebidas de estranhos, ou mesmo ir a bares e boates.

Em algumas versões da lenda, as vítimas acordavam em banheiras cheias de gelo, com um bilhete rabiscado dizendo para procurarem um médico urgentemente, pois haviam tido um rim removido. Outras versões contavam que as vítimas eram atraídas para festas e orgias, onde eram drogadas e tinham seus órgãos roubados.

Homem do Saco

Presente no imaginário infantil de diversas gerações, o Homem do Saco era uma figura assustadora usada por pais e avós para amedrontar crianças desobedientes e fazê-las se comportar. A lenda contava que um homem maltrapilho vagava pelas ruas com um saco nas costas, sequestrando crianças que não obedeciam seus pais, que não queriam ir para a cama, ou que se aventuravam a sair de casa sozinhas.

Algumas versões da lenda dizem que o Homem do Saco mora em um lugar escuro e assustador, como um cemitério abandonado, uma floresta densa, ou um porão úmido e empoeirado. A lenda do Homem do Saco tem origens em contos folclóricos europeus, como o “Bogeyman” (o bicho-papão) e o “Sandman” (o homem da areia), que eram usados para assustar crianças e fazê-las obedecer.

Pipoqueiro Traficante

A lenda dos pipoqueiros ambulantes em frente às escolas que drogavam crianças assombrou pais e escolas, gerando preocupação e desconfiança.

A história era que o vendedor ambulante temperava as pipocas com cocaína ou outras substâncias viciantes, com o objetivo de viciar as crianças e aumentar suas vendas, explorando a inocência e a desconfiança de uma simples pipoca em um local seguro como a escola.

Palhaço Assassino da Kombi

Essa lenda surgiu nos anos 80 e continuou a assombrar nos anos 90, alimentada pelo medo e pela violência urbana. A lenda contava sobre um palhaço sinistro que dirigia uma Kombi branca e sequestrava crianças nas ruas. A história ganhou força com relatos de avistamentos da Kombi e boatos de sequestros que se espalhavam rapidamente pelo boca a boca, gerando pânico e medo em pais e filhos.

Em algumas versões da lenda, o palhaço usava uma fantasia colorida e uma maquiagem exagerada para atrair as crianças, enquanto em outras ele se vestia de forma sombria e ameaçadora. A lenda do Palhaço Assassino da Kombi é uma variação de histórias sobre palhaços sinistros que circulam em diversos países, como os Estados Unidos, onde a figura do palhaço assassino se popularizou com filmes de terror como “It”, de Stephen King.

A Psicologia por Trás das Lendas e o PorQuê Acreditamos no Inacreditável

Por que, mesmo sabendo que são apenas histórias, as lendas urbanas nos assustam tanto? A resposta está na nossa psicologia. As lendas urbanas apelam para nossos medos mais profundos, como o medo da morte, da violência, do desconhecido e da perda. Elas também refletem nossas ansiedades sociais, como a desconfiança em estranhos, o medo de contaminação e a preocupação com a segurança dos nossos filhos.

Além disso, as lendas urbanas muitas vezes são contadas de forma a parecerem reais e verídicas, com detalhes vívidos, descrições sensoriais, e relatos de testemunhas oculares (mesmo que esses relatos sejam inventados ou exagerados). Isso faz com que o nosso cérebro as processe como informações plausíveis e relevantes, mesmo que não haja evidências concretas para comprová-las. A incerteza e a ambiguidade também contribuem para a nossa crença nas lendas urbanas: quando não temos informações claras e precisas sobre um determinado evento ou fenômeno, tendemos a preencher as lacunas com explicações que façam sentido para nós, mesmo que sejam baseadas em boatos, especulações, e falsas memórias.

Por outro lado, as lendas urbanas muitas vezes servem para fortalecer os laços sociais, com pessoas compartilhando histórias e experiências em comum, ou como um escape da realidade, permitindo-nos explorar nossos medos de forma segura e controlada. A teoria da catarse sugere que a exposição a conteúdos assustadores pode ajudar a liberar emoções reprimidas e reduzir a ansiedade.